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Luiz António Ferreira da Costa deixou-nos quase 180 composições, grande parte das quais ainda inéditas. Mesmo das 24 obras com número de opus ( que devem ser vistas como obras de maior relevância para o compositor), um terço nunca foi editado. As partituras da sua única Sonata para piano, das duas Sonatas para Violino e Piano e do Quinteto com piano, entre outras, aguardam ainda a publicação. 
Antes de tudo, a inventariação e catalogação das obras de um compositor é um contributo da História da recepção, uma área importante dentro da disciplina de Musicologia. No caso concreto das obras de Luiz Costa, é de salientar o facto de muitas delas fazerem parte do repertório dos músicos já há mais de meio século, uma prova da estima de que gozam. Além disso, durante décadas, muitas composições de Luiz Costa fizeram parte do programa dos cursos de piano no Conservatório Nacional e no Conservatório de Música do Porto. Algumas obras, no entanto, cujos manuscritos estão incluídos no presente catálogo, só foram descobertas durante este trabalho.
João-Heitor Rigaud, num artigo escrito originalmente para uma mesa redonda no âmbito dos Cursos de Música Luiz Costa de 2008, afirma que, sob aspectos formais, nas composições de Luiz Costa, "cada peça acaba por resultar da anterior e conter o ponto de partida para a seguinte¹. Como, porém, a ordem utilizada neste catálogo não comunica a cronologia da obra na sua totalidade, foi inserida, a seguir à Introdução, uma tabela cronológica, com todas as composições datadas na coluna esquerda e com eventos relevantes na vida de Luiz Costa na coluna direita. Na tabela, as composições que foram modificadas várias vezes ao longo dos anos aparecem apenas sob a primeira data conhecida. Para se informar sobre todas as modificações de uma obra, deve, portanto, consultar-se o próprio catálogo. Nalguns casos, é extremamente interessante comparar as diferentes versões. Um caso especial neste sentido será o das Telas Campesinas, op. 6: as quatro peças foram compostas e recompostas ao longo de três décadas até atingirem última versão.
O conhecimento das ponderações e hesitações de um artista é importante para poder apreciar o seu labor e, até certo ponto, a sua natureza. As qualidades principais deste mestre foram descritas com palavras simples e belas pelo musicólogo Mário Simões Dias, provavelmente a propósito da morte do compositor: "a honestidade, a seriedade de expressão, o encanto discreto e subtil duma fina sensibilidade, distribuíram-se igualmente pela sua obra e pela sua pessoa"².
A seriedade e o respeito de Luiz Costa em relação à Música fizeram com que se mantivesse em busca permanente da solução mais equilibrada relativamente aos aspectos formais (harmonia, ritmo, melodia e proporções das partes) de cada composição. A modéstia e a honestidade do seu carácter deverão ser responsáveis também pelo facto de ter composto a primeira obra de música de câmara (o Quarteto de cordas op. 5) apenas com 42 anos de idade.
Esta coerência entre o artista e o homem é um dos pontos a conceder uma importância particular à sua obra musical dentro da história da música portuguesa. Outros pontos são, sem dúvida, os seus contributos para o género de peça de carácter (ou peça lírica) e para a corrente estética do neoclassicismo que naquela altura se disseminava pela música erudita "ocidental". Com a sua atmosfera e as ideias temáticas inconfundivelmente portuguesas, a obra de Luiz Costa é uma pedra preciosa no mosaico da música europeia do seu tempo.
O primeiro objectivo da catalogação dos manuscritos do mestre portuense é, portanto, dar a conhecer o conteúdo completo do seu espólio musical, com o fim de facilitar a descoberta de mais obras valiosas suas para serem editadas. Em certos casos, o catálogo serve para tirar dúvidas relativas às versões definitivas das respectivas composições. Do Quinteto com piano, op. 12, por exemplo, nos vários concertos em que já foi tocado utilizou-se sempre uma versão que mais tarde sofreu ainda modificações significativas pelo compositor.
A fim de poder fornecer informações como esta, foi preciso analisar todos os manuscritos, isto é, todas as "versões" de cada composição nos vários estádios percorridos até à versão definitiva, e listá-los cronologicamente. Como alguns · manuscritos se encontram perdidos ou incompletos, este trabalho não foi possível em todos os casos, mas sim na sua maioria. Revelando deste modo a génese de cada obra, o catálogo servirá também como base para futuras investigações, o seu segundo objectivo. Recentes estudos sobre o compositor mostram o interesse existente pela sua obra (v. anexo "Bibliografia").
O terceiro objectivo deste catálogo é o de poder servir de modelo para trabalhos semelhantes: o levantamento e a catalogação de um espólio musical que abrange todos os manuscritos, desde os primeiros esboços até às versões finais das composições, incluindo exercícios, arranjos e projectos abandonados.
A descrição dos manuscritos segundo as categorias desenvolvidas no âmbito do trabalho e a atribuição de uma cota a cada um deles facilitam a sua identificação no espólio arquivado. O espólio encontra-se no Porto, na casa particular da violoncelista Madalena Sá e Costa, filha do compositor.



 

¹ João-Heitor Rigaud, "Luiz Costa: um mestre compositor musical", em: glosas, n.º1, Maio de 2010, p.60

² Citação de Hernâni Monteiro, Luís Costa. Em: Arte Musical, III Série N.º 10, Abril 1960, p. 296